Afina o nariz, diminui o olho, engrossa os lábios. Aumenta os seios, ajeita o abdômen, modela as pernas. Bronzeia a pele, tira as rugas, ilumina os cabelos, alisa a pele. Mais reverenciado e polêmico software de tratamento de imagens, o Photoshop completa duas décadas em 2010 conferindo a corpinhos de 60 anos a idade que seus usuários bem entenderem.
A nova versão do programa, o CS5, lançada mundialmente na semana passada, chega às lojas neste mês ao mesmo tempo em que ganha repercussão o debate em torno de suas propriedades mágicas: haveria um limite para o uso do Photoshop? Para alguns parlamentares de países como a França, a Inglaterra e o Brasil, a resposta é sim.
No final de março, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) apresentou à Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que prevê a inserção de alertas em imagens de peças publicitárias ou reportagens publicadas em veículos de comunicação nas quais a aparência física dos protagonistas tenha sido manipulada por meio de programas de tratamento de imagem. Entre as justificativas dadas pelo autor, tais produções reforçariam padrões de beleza irreais.
Com previsão de multas entre R$ 1,5 mil e R$ 50 mil para quem descumprir a norma, o PL no 6.853/10 está em processo de análise e sugestão de emendas pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI). Caso seja aprovado, imagens de pessoas alteradas pelo Photoshop deverão vir acompanhadas da mensagem: "Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada".
Tanto o PL quanto a sua motivação e a sugestão para o aviso de alerta estão longe de serem originais: trata-se de versões da proposta apresentada por políticos franceses em setembro do ano passado, com o objetivo de combater o estereótipo de que todas as mulheres têm a aparência de jovens em boa forma - o que colaboraria para um mal-estar físico, psicológico e social.
Em movimento similar, no mês seguinte o Partido Liberal do Reino Unido defendeu a proibição de uso de qualquer recurso de manipulação de imagem em campanhas publicitárias dirigidas a menores de 16 anos, faixa etária mais exposta às pressões sociais por silhuetas perfeitas.
Beleza irrealEnquanto a temperatura do debate sobe na esfera política, revistas europeias dedicadas ao público feminino reforçam a tendência. Em abril de 2009, a Elle francesa publicou fotos de modelos sem maquiagem. Em outubro do mesmo ano, a alemã Brigitte decidiu que, a partir de 2010, só estamparia "mulheres reais" em suas páginas editoriais.
"Há um movimento mundial, na publicidade e na moda, de voltar-se para as pessoas, digamos, mais normais. Exageram tanto na manipulação de imagens que mostrar o real virou uma proposta ousada, um diferencial", afirma o photodesigner e diretor de produção José Fujocka, usuário do programa há 15 anos. Fujocka foi um dos palestrantes da Photoshop Conference, realizada entre 12 e 14 de abril, em São Paulo. Em sua sétima edição, o evento reuniu aproximadamente 600 profissionais da área - o triplo de participantes presentes na primeira, segundo o organizador Alexandre Keese.
Campanhas publicitárias recentes também movimentaram o debate. Na semana passada, o tabloide britânico Daily Mail mostrou fotos de Britney Spears usadas em ações da grife Candies antes de as imagens serem alteradas digitalmente. Autorizada pela pop star, a revelação confirmou que retoques foram feitos para afinar as coxas, a cintura e o bumbum da cantora; manchas na pele, celulites e até uma tatuagem foram removidas. Já no Brasil, anúncios da Bozzano estrelados pelo jogador Ronaldo chamaram a atenção pelo excesso de manipulação no rosto do craque.
Para o diretor de arte da AlmapBBDO, Marcos Medeiros, o Photoshop não deve ser usado para transformar as pessoas. "A indústria de cosméticos usa e abusa da manipulação de imagens, na tentativa de alcançar uma beleza que é irreal. O Photoshop tem de ser usado a favor da ideia. Não deve ser o propósito, mas sim o meio", opina.
Medeiros é um dos responsáveis pela primeira campanha publicitária da revista Billboard. Feitas com o auxílio do Photoshop, as peças são baseadas em retratos de estrelas pop contemporâneas construídos a partir de pequenas imagens de artistas influentes de décadas passadas. O rosto da cantora Amy Winehouse, por exemplo, é resultado da composição de ícones minúsculos de Marvin Gaye, Sarah Vaughan e Sid Vicious, entre outros. "Neste caso, usamos (o programa) como uma ferramenta de construção e viabilização. A ideia tem que prevalecer sobre a técnica."
O fotógrafo Maurício Nahas também defende o uso do Photoshop, desde que com moderação e bom senso. "O programa não faz nada sozinho, tem sempre alguém no comando. O que não pode é tirar as características da pessoa. Às vezes uma ruga, uma imperfeição, é boa para o contexto da imagem", avalia. "Pegar a cabeça de uma pessoa e colocar no corpo de outra não faz sentido. Nos meus trabalhos, o principal é que os retoques e o uso do Photoshop não apareçam."
PUBLICIDADE E PROPAGANDA VOCÊ ENCONTRA AQUI
NEWS:
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário